Muitas das teorias sobre investimentos são apoiadas em uma premissa básica: que os participantes dos mercados, inclusive do mercado financeiro e de capital, agem e tomam decisões racionalmente. No entanto, a realidade é diferente. Todos somos afetados por vieses cognitivos.
Em outras palavras, ninguém é completamente racional, em nenhum âmbito da vida – nem mesmo quando há dinheiro envolvido. Por isso, existem áreas dos estudos de economia e finanças que se dedicam justamente a entender como a irracionalidade afeta nossa maneira de pensar, de agir e de investir. Uma delas é a área de Finanças Comportamentais.
Nesse artigo, você vai saber mais sobre essa área de estudos, entender o que são os vieses cognitivos e conhecer os 10 vieses mais comuns que podem estar afetando suas decisões de investimento.
Breve histórico de finanças comportamentais
Finanças comportamentais é uma área do estudo de economia e finanças. Ela se dedica a analisar os fatores que influenciam a tomada de decisão e, portanto, o comportamento dos participantes das relações econômicas.
Outras áreas baseiam seus estudos no pressuposto de que decisões e comportamentos nas relações econômicas são racionais. A área de finanças comportamentais entende que não é assim, porque somos influenciados por fatores cognitivos, sociais e emocionais.
Um dos pioneiros dessa combinação entre psicologia e economia foi Richard Thaler, economista norte-americano que chegou a receber um prêmio Nobel por seus estudos, em 2017.
Em sua teoria, Thaler cria duas categorias de pessoas.
A primeira categoria são as pessoas idealizadas, que agem sempre de forma racional. Essas são chamadas de Econs e não existem. A segunda categoria são as pessoas reais, que compram por impulso, gastam por status e fazem investimentos esperando ganhar dinheiro de forma rápida e fácil. Essas são chamadas de Humans.
Todos esses fatores – impulso, busca por status, desejo de enriquecimento – e muitos outros afetam nossa perspectiva na hora de tomar decisões.
Outros pesquisadores que também tiveram um papel significativo para a evolução dessa área do pensamento econômico são Daniel Kahneman e Amós Tversky.
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Em suas pesquisas, Kahneman e Tversky demonstraram que as decisões são tomadas por meio de heurísticas. As heurísticas são processos cognitivos que ignoram parte das informações envolvidas em uma situação, de modo a simplificar a tomada de decisão.
É claro que, ao ignorar informações, as heurísticas podem gerar vieses. Em outras palavras, elas podem fazer com que uma determinada decisão seja favorecida indevidamente, simplesmente porque não estamos analisando a situação de forma completa.
O que são os vieses cognitivos
Os vieses cognitivos são, portanto, são uma espécie de ilusão de ótica para nossa mente. Eles são responsáveis por fazer uma decisão irracional parecer, na realidade, racional. Eles fazem você ignorar o fato de que não está considerando todas as informações ou realizando uma análise imparcial dessas informações.
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Não é difícil entender os vieses cognitivos no plano teórico. No entanto, eliminar esses vieses na prática é bem mais difícil. Afinal de contas, estamos acostumados a conviver com a sua influência; estamos acostumados a essa forma de pensamento.
Se é possível vencer completamente os vieses cognitivos, ainda é uma questão em debate. No entanto, para melhorar seu potencial de resultados – e, principalmente, controlar os riscos – todo investidor precisa fazer um esforço consciente para superar as ilusões. Assim, será possível tomar decisões embasadas em informações concretas e confiáveis.
Os 10 vieses cognitivos mais comuns
Agora, vamos entender quais são os vieses cognitivos mais comuns. Fique atento aos exemplos para identificar quais dessas ilusões você enfrenta e como elas vêm afetando seus investimentos.
1. Dissonância cognitiva
Dissonância cognitiva é o apego às convicções. Para manter esse apego, o indivíduo ignora informações que vão na direção contrária e supervaloriza informações que confirmam sua convicção.
Imagine que um investidor está convencido de que criptomoedas são puro “modismo” e não merecem atenção.
Mesmo havendo muitas informações indicando que as criptos chegaram para ficar, ele não vai mudar de ideia. Pelo contrário, ele possivelmente vai prestar atenção apenas aos casos de pessoas que perderam dinheiro investindo em criptomoedas, enquanto ignora todos os casos de investidores que já se beneficiaram delas.
2. Ancoragem
Ancoragem é a fixação de expectativas em torno de um determinado valor. Assim, todas as decisões são tomadas em torno desse valor, mesmo que ele não tenha nenhum embasamento concreto.
Considere que um investidor ouviu algum influenciador afirmar que as ações de certa empresa vão se valorizar 5.000% em 2022.
Nesse caso, o investidor pode se recusar a vender as ações, mesmo quando fica claro que elas nunca vão chegar a esse patamar. O motivo é que suas decisões estão ancoradas no número que o influenciador divulgou, apesar de a realidade contrariar essa visão.
3. Custo afundado
Custo afundado, ou falácia do Concorde, é o viés cognitivo que leva investidores a colocar mais dinheiro em um ativo que não está performando como esperado. O motivo pode ser uma tentativa de fazer o prejuízo parecer menor, ou simplesmente a recusa em admitir o erro.
Suponha que um investidor compra 1.000 ações de uma empresa a R$ 150,00. Ele espera, é claro, que haja valorização. No entanto, o preço do papel cai para R$ 50,00.
Em vez de reduzir sua posição, o investidor compra mais 1.000 ações. Ao fazer isso, o preço médio que ele pagou pelo papel fica em R$ 100,00. Assim, ele tem a ilusão de que a decisão de investimento não foi tão ruim, porque o preço médio é menor do que o preço que realmente pagou na primeira investida.
4. Excesso de confiança
Excesso de confiança é um dos vieses cognitivos mais evidentes. Ele consiste em superestimar a confiabilidade da própria capacidade de tomar decisões ou realizar previsões.
Em outras palavras, o fato de não reconhecer que está sujeito a vieses cognitivos já é, em si mesmo, um viés. O fato de não reconhecer a possibilidade de cometer equívocos, também.
Um teste simples é perguntar a um investidor qual será o resultado de um certo ativo. Em seguida, pedir que ele avalie o grau de confiabilidade da previsão realizada.
Muitos respondem que a confiabilidade é de 90% ou mais. No entanto, isso representa uma porcentagem muito exagerada, em relação à realidade. Realizar previsões com esse nível de confiabilidade é muito raro, mesmo para especialistas.
5. Efeito Dunning-Kruger
O efeito Dunning-Kruger foi nomeado em homenagem aos psicólogos que o descreveram, David Dunning e Justin Kruger. Eles realizaram testes empíricos mostrando que pessoas com menor grau de expertise tendem a ter mais confiança nas próprias habilidades do que pessoas bem preparadas.
Esse é um viés cognitivo muito visível no mercado financeiro.
Investidores iniciantes tendem a ser os mais confiantes em si mesmos. Eles acreditam que vão conseguir resultados acima da média com facilidade e, por isso, acabam tomando decisões mais arriscadas.
Enquanto isso, os investidores mais experientes sabem o quanto é difícil “bater” a média de mercado. Assim, são mais realistas em suas metas e mais cautelosos em suas decisões.
6. Efeito dotação
Efeito dotação, ou endowment effect, é o viés responsável por causar um apego àquilo que recebemos pronto. Por isso, ele também é responsável por causar relutância em mudar.
É o que acontece com o investidor, quando ele procura o banco e seu gerente oferece, por exemplo, uma previdência privada.
A rentabilidade pode não ser a melhor entre os fundos de previdência disponíveis no mercado. Porém, depois que ele fez o investimento, será muito mais relutante em realizar a portabilidade para outro fundo, mesmo sabendo que pode obter um resultado mais atrativo.
7. Contabilidade mental
Contabilidade mental é um viés que foi descrito por Richard Thaler, um dos desbravadores das Finanças Comportamentais. Ele observou que nós fazemos uma separação mental do nosso patrimônio em contas. O capital que tem origens diferentes recebe tratamentos diferentes.
Isso afeta os hábitos de investimento.
Muitas pessoas podem ter facilidade para aplicar recursos que vêm de fontes não recorrentes, como um bônus. No entanto, encontram dificuldades para destinar uma parte de seu salário mensal ao investimento.
Isso acontece porque recursos de fontes não recorrentes são vistos como um capital fora do orçamento, que não vai fazer falta. Enquanto isso, o salário mensal é visto como capital para pagar as contas do dia a dia – mesmo quando seria possível retirar uma parte dele para investir.
8. Heurística da disponibilidade
Heurística da disponibilidade está relacionada com a disponibilidade de eventos em nossa memória.
Quanto mais recorrente ou mais recente um evento é, mais disponível está em nossa memória. Então, na hora de tomar uma decisão, nós temos a ilusão de que é altamente provável que o evento se repita no futuro.
Quando um investidor vê o preço de uma ação subir em 5 pregões seguidos, a disponibilidade desse evento em sua memória aumenta. Por isso, ele passa a acreditar que o preço continuará subindo nos próximos pregões.
Entretanto, o fato de ter havido alta de preço nos pregões anteriores não tem nenhum impacto para o preço nos próximos pregões. Aliás, como é sempre reforçado quando falamos sobre mercado financeiro, resultados passados não são garantia de desempenho futuro.
9. Efeito de disposição
Efeito de disposição é um viés cognitivo que leva os investidores a vender ativos em alta em curto prazo e manter ativos em baixa em longo prazo.
Em outras palavras, se o investidor compra um ativo e ele imediatamente começa a apresentar alta, o investidor vende o ativo rapidamente. Porém, se esse ativo começa a apresentar baixa, o investidor mantém o ativo em sua carteira, mesmo que ele acumule cada vez mais prejuízo.
O motivo é que os investidores querem se proteger.
Então, eles vendem o ativo em alta rapidamente, para garantir algum lucro. No entanto, ao fazer isso, perdem o potencial de lucratividade em longo prazo do ativo.
Da mesma forma, eles ficam com o ativo em baixa, ainda que ele continue se desvalorizando. Com isso, o objetivo é tentar vender quando o ativo apresentar alguma alta, para minimizar os prejuízos. No entanto, a situação se complica quando essa alta não acontece e, portanto, os prejuízos só se acumulam.
10. Desconto hiperbólico
Desconto hiperbólico é o viés cognitivo associado com a preferência por recompensas imediatas.
Ao escolher entre uma recompensa imediata ou uma recompensa futura, ainda que a recompensa futura seja maior, a maioria das pessoas opta pela imediata. Elas fazem um desconto exagerado do valor da recompensa futura.
Quando a opção é entre duas recompensas futuras, esse efeito se atenua.
É por isso que tantas pessoas são atraídas pela ideia do trading, que promete lucros imediatos – especialmente o day trading, em que as operações são iniciadas e encerradas no mesmo dia. Enquanto isso, estratégias de investimento de médio a longo prazo, como buy and hold, podem ser consideradas menos atrativas.
Neste artigo, você aprendeu o que são vieses cognitivos e como eles afetam sua forma de pensar em relação aos investimentos. Também descobriu quais são os 10 vieses mais comuns.
Essa conscientização é o primeiro passo para tomar decisões com melhor embasamento. Assim, será possível melhorar seu potencial de resultados e controlar os riscos.
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Disclaimer: As informações apresentadas neste artigo são provenientes de relatórios elaborados por terceiros. Esse material tem caráter puramente informativo, e não configura recomendação ou sugestão de investimento.