A liquidação do Banco Master, decretada pelo Banco Central, gerou forte repercussão no mercado financeiro brasileiro. A decisão envolveu a interrupção imediata das operações do banco, de sua corretora e do banco de investimentos do grupo, marcando um dos episódios mais relevantes da história recente do sistema financeiro.
A medida, embora impactante, não surpreende especialistas em regulação. A liquidação extrajudicial é o mecanismo utilizado pelo BC quando há indícios de insolvência irreversível ou graves infrações legais, tornando inviável a continuidade de uma instituição.
Nessa decisão, o Banco Central garantiu que os clientes seriam protegidos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que atuará em uma das maiores operações de resgate já registradas no país. A estimativa é de que 1,6 mi credores terão direito de receber cerca de R$ 41 bilhões em garantias.
Antes de avançar para as implicações, é importante entender o que agravou a situação do Master, como o BC determinou a liquidação e quais lições este caso deixa para investidores.
Um dos maiores escândalos financeiros do país
A crise que levou à liquidação do Banco Master reúne todos os elementos de um escândalo histórico: crescimento acelerado, alavancagem extrema, operações suspeitas, rombo bilionário e intervenção inédita no país.
2019: o início da escalada acelerada
O Banco Master começa a crescer rapidamente. Em poucos anos, o patrimônio líquido, que era de cerca de R$ 219 milhões salta para quase R$ 5 bi em 5 anos, uma trajetória de expansão impulsionada por captação agressiva em CDBs.
2020–2022: expansão baseada em risco elevado
O banco passa a oferecer CDBs pagando entre 120% e 140% do CDI, muito acima da média de mercado, e a pagar comissões de 4% para agentes financeiros que vendiam seus CDBs.
Para efeito de comparação, os grandes bancos pagam 0,5%. A estratégia atrai centenas de milhares de investidores pessoas físicas.
Ao mesmo tempo, o Master opera com alavancagem próxima de 10 vezes o capital, enquanto destina parte significativa dos recursos a empresas fragilizadas como Oi, CVC, Light, Ambipar, Gafisa e Westwing.
Final de 2024: Banco Central detecta desequilíbrio grave
A autarquia identifica que o Master acumula:
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R$ 50 bilhões em CDBs emitidos,
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R$ 12 bilhões vencendo já em 2025,
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uma carteira repleta de ativos problemáticos.
O BC exige duas medidas imediatas:
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Redução das operações de maior risco.
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Aporte de R$ 2 bilhões em capital para evitar quebra.
Início de 2025: BRB tenta comprar o Master
O BRB anuncia que pretende adquirir o Master por aproximadamente R$ 2 bilhões. Durante a análise do negócio, o BC, o MPF e a PF descobrem movimentações muito mais suspeitas: entre 2024 e 2025, as duas instituições realizaram operações que somaram R$ 16,7 bilhões, dos quais R$ 12,2 bilhões teriam sido destinados à compra de carteiras de crédito inexistentes.
As investigações apuram crimes de gestão fraudulenta, gestão temerária, organização criminosa e outros.
2025: as engrenagens do esquema começam a aparecer
A Polícia Federal identifica:
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contratos retrodatados,
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assinaturas eletrônicas incompatíveis com as datas,
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documentos produzidos em curto espaço de tempo,
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uso de uma empresa intermediária para legitimar operações fictícias.
A conclusão preliminar: havia “fabricação” de carteiras de crédito para justificar a entrada bilionária de recursos do BRB no Master.
Outubro de 2025: vencimento simultâneo de R$ 1 bilhão em CDBs
A instituição precisa pagar R$ 1 bilhão em CDBs até o fim de outubro, grande parte a investidores pessoas físicas. A saída concentrada de recursos aumenta a pressão por liquidez.
Novembro de 2025: vencimento de R$ 4 bilhões com o FGC
A dívida com o Fundo Garantidor de Créditos, prorrogada anteriormente, vence definitivamente no começo de novembro, adicionando ainda mais estresse.
Segundo o Pipeline (Valor Econômico), o Master tenta vender ativos às pressas para levantar caixa, mas não consegue atingir o montante necessário.
Sem conseguir levantar caixa suficiente para honrar os vencimentos gigantescos, o banco entra em colapso operacional.
18 de novembro de 2025: a maior intervenção da história do sistema financeiro
No dia seguinte ao anúncio de interesse do Grupo Fictor em comprar o Master por R$ 3 bilhões, o Banco Central decreta intervenção por 120 dias no Banco Master. Em seguida, determina a liquidação extrajudicial do banco, de sua corretora e de seu banco de investimentos.
A decisão inclui:
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Nomeação da EFB Regimes Especiais como liquidante;
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Bloqueio dos bens dos controladores, incluindo o banqueiro Daniel Vorcaro que foi preso;
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Prisões realizadas pela PF durante a operação Compliance Zero.
Na prática, a instituição deixa de ter autonomia, não pode ser vendida e fica impedida de continuar suas atividades. Com isso, clientes e investidores passam a aguardar o processo de restituição dos valores aplicados.
Impactos atingem empresas listadas e fundos de pensão
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A Oncoclínicas tinha R$ 433 milhões aplicados no Master, dos quais R$ 216 milhões permaneceram expostos após provisões.
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O Rioprevidência havia direcionado R$ 2,6 bilhões para fundos ligados ao banco, incluindo R$ 100 milhões em ações da Ambipar, operação classificada como imprudente pelo Tribunal de Contas.
Resgate do Banco Master supera marca histórica e se torna o maior pagamento já feito pelo FGC
O FGC estima que deverá desembolsar cerca de R$ 41 bilhões para reembolsar os credores do Banco Master, um valor que, se confirmado, estabelece o maior resgate da história da instituição. Até então, o recorde pertencia ao Banco Bamerindus, cuja liquidação em 1997 resultou no pagamento de R$ 3,7 bilhões, equivalentes hoje a aproximadamente R$ 19,6 bilhões corrigidos pelo IPCA.
Em volume de clientes, porém, o Bamerindus permanece na liderança, com mais de 3,9 milhões de pessoas atendidas na época. No caso do Master, o FGC projeta cerca de 1,6 milhão de investidores e correntistas a serem reembolsados, ainda assim, um número significativamente superior ao de outros episódios históricos, como o Banorte, que em 1996 teve 146,5 mil credores contemplados.
Segundo o próprio Fundo, seu patrimônio total até setembro era de R$ 160 bilhões, dos quais R$ 122 bilhões estavam disponíveis em caixa, reforçando a capacidade de absorver o maior resgate já registrado no sistema financeiro brasileiro.
Para relembrar, o que é FGC?
Criado em 1995, o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) é uma entidade privada, sem fins lucrativos, que integra o Sistema Financeiro Nacional. Seu papel é fortalecer a segurança e a confiança dos depositantes, contribuindo diretamente para a estabilidade do sistema financeiro e para o desenvolvimento econômico do país.
O FGC atua protegendo investidores e correntistas quando uma instituição financeira entra em intervenção, liquidação ou falência. A garantia cobre até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ, por instituição ou conglomerado, respeitando o limite global de R$ 1 milhão a cada quatro anos.
Produtos financeiros cobertos pelo FGC
A seguir, conheça os produtos garantidos pelo FGC em até R$ 250 mil:
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Conta corrente, conta poupança e conta salário
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CDB e RDB (Depósitos a prazo)
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LCI e LCA (Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio)
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LCD (Letra de Crédito do Desenvolvimento)
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LH (Letra Hipotecária)
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LC (Letra de Câmbio)
- DPGE (Depósitos a Prazo com Garantia Especial) com regras específicas.
Nos últimos 30 anos, o FGC já foi acionado mais de 40 vezes
A atuação do Fundo Garantidor de Créditos é essencial para manter a estabilidade do sistema financeiro. Embora o caso do Master tenha ganhado grande visibilidade pelo seu tamanho, ele não é isolado.
Veja uma linha do tempo simplificada da atuação do FGC:
1995–2005: Primeira década de acionamentos
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Crises cambiais e dificuldades de pequenas instituições levaram a cerca de 10 intervenções.
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O FGC começou a ganhar relevância como agente estabilizador.
- Só em 1997, o FGC foi acionado 6 vezes.
2006–2010: Expansão bancária e ajustes regulatórios
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Aproximadamente 12 acionamentos.
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Marcaram casos emblemáticos, como bancos médios e cooperativas.
2011–2020: Consolidação do sistema financeiro
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Entre 15 e 20 acionamentos nesse período.
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Redução de riscos sistêmicos e maior rigidez regulatória.
2021–2025: Ambiente desafiador
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Aceleração digital trouxe novos riscos operacionais e de governança.
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O caso do Banco Master se tornou o maior acionamento da história.
No total, mais de 40 eventos exigiram a atuação do FGC nos últimos 30 anos e nenhum deles gerou risco sistêmico relevante.
O que o caso do Banco Master nos ensina?
A liquidação do Banco Master escancara um ponto que muitos investidores ignoram: nem tudo o que parece conservador é realmente seguro. No caso do Master, havia proteção do FGC, mas essa é uma exceção no mercado. A maioria dos ativos de crédito que compõem carteiras de renda fixa não conta com essa garantia.
É o caso de Debêntures, CRIs, CRAs, FIDCs e fundos de crédito, por exemplo. Nenhum desses produtos é coberto pelo Fundo Garantidor de Créditos, embora muitos tenham sido recomendados ao longo dos últimos anos como “alternativas mais rentáveis” ou “renda fixa turbinada”.
1. Diversificação de verdade é indispensável
Concentrar grandes valores em uma única instituição ou em um único emissor aumenta drasticamente o risco.
E o caso do Master mostrou o que ocorre quando a alavancagem excessiva e a má governança se encontram com investidores expostos demais.
Diversificar bancos, emissores, classes de ativos e prazos é essencial para proteger o patrimônio, especialmente em períodos de aumento de inadimplência corporativa.
2. Governança e risco importam mais do que a taxa
O episódio também deixa claro que escolher bem onde investir vai muito além da rentabilidade.
Avaliar a solidez de uma instituição exige olhar para:
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governança e controles internos;
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rating de crédito;
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exposição a setores frágeis;
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concentração de operações;
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histórico dos gestores.
No caso do Master, diversos desses alertas já estavam acesos antes da liquidação.
3. A falsa sensação de segurança na renda fixa privada
Mesmo ativos considerados “conservadores” como CDBs, debêntures incentivadas e fundos de crédito têm riscos associados ao emissor. O FGC não cobre a maior parte deles.
E o cenário atual exige atenção:
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2024 bateu recorde com 2.273 pedidos de recuperação judicial no Brasil;
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2025 já registrou alta superior a 6% no primeiro trimestre, com destaque para o agronegócio;
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a projeção para o ano ultrapassa 3 mil pedidos.
Ou seja: empresas que pareciam sólidas estão quebrando, incluindo algumas que emitiram títulos presentes, ou que podem estar, no portfólio de muitos investidores.
4. O risco não está no modelo de atendimento, mas na forma como ele é aplicado
Nos últimos meses, muitos investidores migraram para o modelo de fee fixo acreditando que, assim, eliminariam conflitos de interesse. O problema é que, em 90% dos casos, o fee fixo se torna caro, sem entregar o valor esperado.
Aqui na Renova Invest, observamos que o grande problema não é o modelo, e sim a qualidade da análise, do profissional e da construção da carteira.
Uma boa analogia: ser mal atendido por um médico não significa que a medicina não funciona, significa que você estava com o profissional errado.
5. O risco oculto que quase ninguém percebe
Em praticamente todas as primeiras reuniões com novos clientes, encontramos ao menos um ativo de risco relevante na carteira que o investidor não sabia que tinha.
A verdade é que muitos portfólios construídos no mercado parecem diversificados, mas escondem concentração em riscos corporativos, ativos ilíquidos e estruturas complexas demais para o investidor comum.
A liquidação do Banco Master reforça: segurança exige orientação especializada
Se você quer investir com estratégia, proteção e clareza sobre os riscos reais da sua carteira, é fundamental contar com alguém que não esteja olhando apenas para a taxa, mas para a sua trajetória financeira.
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